quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

VI Alvorada de São Benedito 2013 - Ourém/Pará


Aconteceu no amanhecer de 24/12/2013 a VI Alvorada de São Benedito, pelas ruas da cidade de Ourém, e, também, pelo rio Guamá, que banha a cidade bicentenária, localizada no nordeste paraense, a cerca de 180 km de Belém do Pará.

Mais uma vez, a Alvorada em homenagem ao Santo Preto atraiu algumas dezenas de populares e contou com a presença de  Mestres de Bois Bumbás da cidade(Sales Machado, João Ceguinho, Faustino e Tuite) e da Tripulação de São Benedito(Tio Velho, Seu Juquinha, Domingos, Gregório e outros), grupo que anima a procissão oficial de São Benedito, promovida pela Igreja Católica, na tarde do mesmo dia. Presença marcante é das crianças, que mesmo com o cedo da hora, acordam e acompanham seus pais, participando ativa e alegremente de toda a procissão popular. E assim, vai-se construindo por meio da transmissão oral(griô) dessa tradição, passada de pai para filho, de geração em geração, para que a festividade de louvação a São Benedito continue.


Durante toda a caminhada, de mais de 5 km, majoritariamente pela periferia de Ourém, são entoadas várias músicas em louvor a São Benedito, dentre as quais a ALVORADA BENEDITINA DE OURÉM, composta especialmente para a Alvorada por Arlindo Matos, presidente da Fundação Cultural de Artes e Esportes Mundico e Manola - FUNCARTEMM, promotor do evento, que nos ensina que "esta Alvorada é uma manifestação introduzida por nós há seis anos, para remomorar a antiga procissão fluvial de São Benedito que existiu em Ourém até a década de 1960. Aquela, que é centenária também é feita no mesmo dia 24/12, só que pela parte da tarde e por via terrestre, mas já ultrapassa mais de 150 anos e é acompanhada por cerca de 10 mil pessoas todos os anos, com a chancela da igreja católica da paróquia."
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Cada olhar traduz um segredo
Pra bem cedo o santo louvar
Benedito, meu santo preto
Tua fita eu quero beijar
Peregrino sem pressa, sem medo
Em cortejo, rezo a ladainha
Agradeço em prece essa graça
Mesa farta, harmonia em família
No balanço da canôa
No banzeiro do Guamá
Em romaria no rio      
Rio abaixo a navegar___
Filharada na barra da saia
Reco-reco, viola, tambores
Pretos, brancos, mulatos, mestiços
Teu andor adornado de flores
As bandeiras abrindo caminho
O menino em seu colo é a bênção
Te saúdo com muitos foguetes
Te ofereço singela oração

Durante todo o trajeto, fogos de artíficio vão acordando os moradores da cidade e os devotos vêm para frente de suas casas para receber a benção do São Benedito, que vem, entre bandeiras vermelhas, fitas e flores coloridas, carregado cuidadosamente, ora do lado esquerdo ora do lado direito do peito, por senhoras devotas. Aqueles que não podem sair de casa, seja por doença ou em razão da idade avançada, o Santo Preto vai ao encontro destes especiais fiéis, cumprindo assim sua sina, de matar a fome de fé de seu povo mais necessitado. E tudo sempre ao som dos tambores e da voz firme dos participantes a entoar seus louvores.





Após as bençãos generosamente concedidas, a procissão segue seu rumo natural mais próximo à natureza, atravessando uma fazenda aparentemente abandonada, onde algumas cabeças de gado se alimentam e vêem a distância Benedito chegar às margens do rio Guamá, agora já com os primeiros raios de sol a iluminar. Por água, a procissão segue, rio Guamá abaixo, com os devotos embarcados em cinco canoas e rabetas dos fiéis ribeirinhos que já aguardam a postos a chegada de todos para seguir vagarosamente orando e cantando até a frente da cidade.




O encerramento da procissão se dá na praça em frente à Prefeitura, aonde é rezada a ladainha, em latim, pela Tripulação de São Benedito e, logo em seguida, é servido um café da manhã, finalizando com a distribuição de mil pães, revivendo assim a partilha do Santo Preto, que era pobre e descendente de escravo, que foi lavrador, pastor de ovelhas. Benedito era analfabeto, mas doutor em humanidade, e como cozinheiro do Mosteiro franciscano onde chegou a ser eleito o Superior, de lá retirava alguns alimentos para dar aos pobres, que tinham fome. Escondia-os dentro de suas roupas e os levava para os famintos que enchiam as ruelas das cidades. Conta a tradição que, em uma dessas saídas, o novo Superior do Convento o surpreendeu e perguntou: “Que escondes aí, embaixo de teu manto, irmão Benedito?” E o santo humildemente respondeu: “Rosas, meu senhor!” e, abrindo o manto, de fato apareceram rosas de grande beleza e não os alimentos de que suspeitava o Superior.




Então viva a partilha, a doação, a solidariedade!
Viva nosso Benedito, nosso santo Preto!
Viva sua Alvorada e seus fiéis seguidores!!!

Todas as fotos estão disponíveis no nosso álbum do flickr:
http://www.flickr.com/photos/mochileirotuxaua/sets/72157639239077866/

Meus sinceros agradecimentos ao Arlindo Matos por nos proporcionar as condições necessárias para a realização deste registro cultural.




Jonas Banhos
Blogueiro da Cultura Popular Viva
jonasbanhosap@gmail.com
(61) 8167 1254

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