quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Figureiras do Vale do Paraíba(Taubaté/SP)

A cidade de Taubaté-SP fica no Vale do Paraíba, distante 134 km de São Paulo capital, situando-se na margem da Rodovia Presidente Dutra-estrada que liga o Rio ao estado de São Paulo-SP.
 

 
 
 





As Figureiras de Taubaté são assim denominadas por serem mulheres, a maior parte dos artesãos.
No entanto, atualmente, há homens exercendo o ofício. Estas mulheres são exímias na arte de esculpir em barro cru obras que espelham o cotidiano da vida do interior com seus usos, tipos,costumes e temas religiosos.

 


      
 
 

 
 

Os trabalhos de modelar pequenas figuras iniciaram-se através dos frades franciscanos do Convento de Santa Clara, no século XVII, que encomendavam às mulheres, por ocasião das festas natalinas, a confecção de presépios com cenas relativas ao nascimento de Jesus: o Estábulo de Belém, a Manjedoura, São José, Nossa Senhora, os Reis Magos, a Estrela e os animais-burrico, boi, vaca, carneiro etc.

Com o tempo, com muita criatividade, sensibilidade e humor, as figureiras passaram a espelhar em seus trabalhos outros temas.
Novos personagens surgiram representados por pequenas figuras sempre bem coloridas, com dimensões entre 3 e 25 cm,
retratando o cotidiano, as profissões, as festas religiosas, os animais e o imaginário popular.


Assim surgiram o Pavão (também chamado de Galinho do céu), a Chuva de Pavões, o São Francisco com os pássaros,
Nossa Senhora das Flores, Nossa Senhora de Aparecida, e muitas outras figuras.



As figureiras modelam suas obras usando barro que é amassado delicadamente com os dedos. Usam para dar acabamento ferramentas improvisadas do tipo: estiletes, facas, palitos, hastes de bambu etc. Em algumas figuras são aplicados componentes, como arame e outros materiais.

A maioria dos trabalhos são esculturas de pequeno porte e por esta razão não necessitam ser levadas ao forno para queimar, já que se tratam de objetos decorativos, que, pela sua natureza e utilização, são pouco manuseados. Observamos que o uso do barro cru não traz maiores inconvenientes, já que a relativa fragilidade das peças não é fator que mereça preocupação. Como se sabe, trabalhos com argila somente se tornam duros e pouco quebradiços quando cozidos numa temperatura
superior a 500° C.

As peças são secas ao tempo, por cerca de 24 horas. Em seguida, inicia-se a decoração, quando são pintadas, nos mínimos detalhes, com tintas comerciais do tipo, acrilex, suvinil, pó xadrez e similares.

Uma das características do trabalho de todas as figureiras são as cores vibrantes das peças. Aplicam
muito um azul de tom forte, amarelo, verde, branco, preto, vermelho, prateado, dourado, etc.
Os principais tipos e cenas abordados pelas figureiras são: O Pavão, também chamado Galinho do Céu, sob várias formas e sua Chuva. A Galinha d'Angola sozinha e na forma de chuva, Arca de Noé, os tipos regionais-lavadeiras, passadeiras, jardineiros, lenhadores, vendedores de galinha, mulher alimentando as galinhas com milho, mulher socando o pilão, preta velha, pescador, violeiro, pedreiro, sanfoneiros, palhaço, carro de boi; os animais- bois, carneiros, raposas, beija-flores, burrinho, galo, galinha, pavão, onça, joaninha e muitos outros; as danças típicas-quadrilha, bumba meu boi, da fita, grupos de Moçambique, roda de jongo, congadas, a folia do divino e dos reis;os Santos-Nossa Senhora das Flores, Nossa Senhora da Aparecida, São Francisco com os pássaros, Sagrada Família e presépios apresentados com variados componentes e formas.

      São modelados também os personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo, de autoria do escritor Monteiro Lobato, que era taubateano - Emília, Narizinho, Pedrinho, Dona Benta, Visconde de Sabugosa, Tia Anastácia e o Jeca-Tatu.







Inicialmente, eram feitas somente Chuvas de Pássaros com pavõezinhos, mas,
atualmente, há outras Chuvas , de Galinha d'angola, de Bois, de Bumba,
de Pato, de Carneiro etc.





O Pavão, uma das primeiras figuras criadas, que aliás é o símbolo do folclore de Taubaté, inicialmente tinha como cor predominante o azul mas, atualmente, é decorado também com as cores-vermelho, branco etc



Muitas das figuras, como o Pavão, a Galinha d'angola, as Chuvas, os Presépios e outras, são temas comuns modelados por muitos dos artistas. Cada obra, no entanto, tem características próprias de criação com sutis diferenças entre umas e outras. Não há entre os artesãos nenhuma restrição, pois ninguém se julga dono, com exclusividade, de nenhuma imagem.
Em Taubaté os trabalhos das figureiras são encontrados, basicamente, em dois lugares: na Casa do Figureiro e nas proximidades, na rua Imaculada Conceição, no Alto de São João.


A Casa do Figureiro, uma espécie de cooperativa, está situada na rua dos Girassóis 60-Campos Elíseos-Tel (12) 3625-5154, CEP 12090-290. Leva o
nome de Maria da Conceição Frutuoso Barbosa, falecida em 1950, em homenagem à religiosa que liderou a construção da primitiva Capela da Imaculada Conceição.
http://www.casadofigureiro.com.br

Lá estão reunidos dezenas de artesãos. Em out/01 eram aproximadamente 42: Alice, Arlete, Benê, Décio, Dri, Ismênia, Jana, Jorginho, Josi, Mara, Nelson,Teça, e muitas outras e outros.
No local há um grande salão onde são expostas e comercializadas as peças dos artistas. Existe uma oficina que é também aproveitada para a realização de cursos dirigidos para a comunidade, ministrados pelo SEBRAE, pela UNITAU-Universidade de Taubaté, que ensina inglês para que as figureiras possam melhor atender aos visitantes estrangeiros, e pela SUTACO-Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades, órgão do governo estadual que promove e incentiva o artesanato paulistano.

Na rua Imaculada residem as mais antigas e conceituadas figureiras da cidade. Destacam-se as irmãs Maria Luiza Santos Vieira, Cândida Santos Vieira e Edith Santos Vieira, esta última, já falecida (1927-1998), que, há cerca de 65 anos, trabalham esculpindo figuras, tendo aprendido a modelar com o pai, a mãe e tias. Elas residem, comercializam suas peças e trabalham numa simpática casa situada na rua Imaculada n° 654. Num pequeno galpão, nos fundos, produzem seus trabalhos, juntamente com outros componentes da família, sobrinhos e afins que também exercem o ofício: Eduardo, Claudete, Thais, Silvia, Claudia, Silvia Helena.
Contatos: (12) 3632-8599 e (12) 3629-4922 – Eduardo odraude39@hotmail.com .
 
Recentemente, juntou-se, ao grupo familiar, outro irmão. Trata-se de José Domingos que esculpi, principalmente, figuras representativas do cotidiano rural - lenhadores, carro de boi, onça, jeca tatu e outros tipos regionais.
 
É de autoria de Cândida, a famosa figura do Pavão, que é apresentada sob várias formas:com a cauda levantada, com a cauda caída (pavoa), de relevo, com penas arrepiadas, e pavão recoberto, com penas de galinha, bem como a Chuva de Pássaros. A figura do Pavão foi inspirada nos pavões que existiam numa praça da cidade e a chuva ao observar árvores com muitos pássaros em seus galhos.

O site oficial das Figureiras de Taubaté é http://www.figureirasdetaubate.com.br/ .


FO NTE:
http://www.ceramicanorio.com/artepopular/figureirastaubate/figureirastaubate.htm

Luiza criou a Arca de Noé e dezenas de profissionais-lavadeiras, passadeiras, jardineiros, lenhadores etc; danças-quadrilha, da fita, moçambique, o jongo, a folia do divino; brinquedos-rodas pneu, gongorra e outros.
Edith criou fama ao criar Nossa Senhora das Flores, São Francisco e fazer mini-presépios.

Reside, também na rua Imaculada n° 298, a mais antiga figureira Dona Idalina da Costa Santos, nascida em 1914, mãe de Ismênia Aparecida dos Santos, atual presidente da Casa do Figureiro (out/01) e de Maria Alice Santos de Oliveira,
outra filha também artista.


Outra figureira residente na rua Imaculada é Rita Huesca Hidalgo (1942), que se assina RHH, cuja casa é quase vizinha à das três irmãs acima referidas. Faz imagens de Santos. Seu filho Henrique Huesca Hidalgo, que se assina HHH , também é artista, bem como Ana Amélia Huesca Hidalgo, outra filha.
Contato:
(12) 3632-9482.


Não podem deixar de ser citadas, outras famosas figureiras, como Virginia Nogueira, conhecida como Edwiges, já falecida, que foi uma das primeiras artistas a alcançar fama nacional. Outros nomes importantes são os de Maria Eugênia Marcondes, Anita da Silva Sampaio, Benedito Gomes da Silva, Maria da Silva, Anastácia Costa dos Santos, Anastácia de Oliveira, Sebastião Oliveira conhecido como Padeiro Oliveira, Bartholomeu Nogueira (filho de Edwiges) e sua mulher Maria Benedita Nogueira.

Os artesãos ligados à Casa do Figureiro e os da rua Imaculada possuem uma convivência marcada por grande amizade e camaradagem. Quando algum recebe uma encomenda, e não tem condições de atender no prazo, repassa parte ou tudo para um ou vários companheiros.


Certa ocasião, um laboratório farmacêutico encomendou cerca de 1500 figuras de médicos, para presentear participantes de um congresso, tendo sido a encomenda dividida entre vários artistas, o que favoreceu o cumprimento do prazo.

O barro usado na confecção das peças é obtido lá pelos lados do Rio Itaim, que corre próximo à cidade. Este mesmo procedimento era adotado pela Fábrica de Louça Santa Cruz, durante muitos anos uma das maiores indústrias da cidade de Taubaté, que chegou a ter 2200 empregados, cujas atividades foram encerradas em 1964.
 
O maior incentivador da arte das Figureiras de Taubaté foi o Professor Rossini Tavares de Lima, falecido em 1987, que dentre outras medidas de incentivo e reconhecimento, coordenou em 1964, no Parque Água Branca em São Paulo-SP, a primeira exposição das Figureiras. Como singela homenagem, as irmãs Cândida e Luiza mantêm, na parede da oficina, sua foto emoldurada.
    
Anualmente, no dia 19 de agosto, acontece na cidade de Taubaté a Festa do Folclore do Bairro da Imaculada, tradição desse povo alegre, que remonta há mais de 150 anos . Na ocasião, apresentam-se grupos folclóricos, duplas sertanejas, quadrilhas, espetáculos musicais e outras manifestações regionais, festivas e culturais.


A princípio, eram confeccionados presépios. Depois surgiu o pavão, a chuva de pavões, e outros temas se foram seguindo. Hoje em dia, existem muitas outras criações. Alguns artistas fazem o presépio tradicional e nele colocam chuvas.
Por isso, existem presépios com chuva de vaquinhas, de patinhos,
de carneirinhos e por aí vai. A sutileza e a ingenuidade criativa não têm limites.


Muitas vezes, surgem encomendas especiais, feitas por colecionadores do Brasil e do exterior. Certa ocasião,
pediram para as três irmãs uma Chuva d'
Angola de maior tamanho. Foi confeccionada uma, com 121 galinhas,
medindo cerca de 1 metro de altura, dimensão bem superior às que normalmente são feitas
-25 cm de altura - com cerca de 20 galinhas.

Em Taubaté, existem outros artistas que trabalham com o barro, fazendo peças diferentes das tradicionais. Décio de Carvalho Junior, filho da figureira Teca, nascido em 1969, é escultor. Suas peças retratam temas religiosos e regionais. Faz também rostos e bustos, tudo em terracota, que é queimada no forno existente na Casa do Figureiro, sem esmaltação.

Esta atividade artística, existente desde o século XIX, tem sido transmitida de pais para filhos, através das gerações, permitindo que haja uma efetiva preservação desta original tradição cultural, com raízes bem brasileiras.

Deve ser observado que as obras destes artistas preservam verdadeiros tesouros de nossa nacionalidade. É por isto que vale a pena conhecer e prestigiar os trabalhos deste importante pólo criativo da cultura popular brasileira.

Pesquisa, texto e fotos: Renato Wandeck

Referências Bibliograficas:Revista Palavra. Nº 14, junho 2000.
Casa Claudia-Artesãos do Brasil. Ano 24 nº 464, 2000
Pavilhão da Criatividade: Memorial da América Latina:Brasil/Maureen Bisilliat,1999
 
disponível em:

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