segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
sábado, 5 de janeiro de 2013
Zambiapunga: do Baixo Congo para o Baixo Sul baiano (Nilo Peçanha)
O termo tem origem,
provavelmente, no nome do deus supremo dos Candomblés, ou seja, Zamiapombo. É
caracterizada pelo uso de búzios gigantes, enxadas e outras ferramentas
agrícolas, que são tocados como instrumentos de percussão pelos componentes A
zambiapunga caracteriza-se, também, como um divertimento das pessoas envolvidas,
que saem, de madrugada, com o intuito de acordar a população com sons dos
instrumentos.
Por quase quatro
séculos a economia do Brasil colônia, e posteriormente imperial, foi sustentada
pela exploração da mão-de-obra escrava africana. Estes africanos foram trazidos
à força para o Novo Mundo e, por não serem culturalmente homogêneos, trouxeram
sua diversidade lingüística, religiosa, social e política para o Brasil, o que
contribuiu decisivamente para nossa riqueza cultural. O Zambiapunga de Nilo
Peçanha é uma manifestação atual da cultura popular baiana cuja origem liga-se
profundamente a aspectos culturais importados do continente
negro.
foto 2 e 3
Zambiapunga é um
grupo de homens mascarados que saem às ruas de Nilo Peçanha tradicionalmente na
madrugada do dia 1o de novembro, dia de
Todos-os-Santos, véspera de Finados, vestindo roupas coloridas feitas com panos
e papeis de seda e percutindo instrumentos peculiares como enxadas, búzios,
cuícas rústicas e tambores.
É provável que o
Zambiapunga do Baixo-Sul baiano era ou integrava um ritual religioso de uma
parcela dos africanos escravizados. Para entendermos esse aspecto é necessário
fazermos uma análise etimológica do termo "zambiapunga" e enumerarmos alguns
aspectos da religiosidade dos povos cujo termo citado se liga: os
Bantos.
Zambi ou Nzambi-a-Mpungu é o Deus supremo de povos bantos do Baixo Congo.1 A relação entre a palavra "zambiapunga" e o Deus supremo de africanos é a primeira evidência da origem religiosa do folguedo atual. Para compreendermos a segunda evidência da origem religiosa do Zambiapunga é necessário falarmos um pouco sobre os Bantos e sua religiosidade. Os bantos, povos cujas línguas possuem uma origem comum e, por isso, o termo "Banto" delimita um grupo lingüístico africano e não uma etnia, vivem em todo o território abaixo do equador, ocupando uma área de 9.000.000 Km2 e englobando190.000.000 de indivíduos.2 Apesar das grandes especificidades culturais que pode haver entre 190.000.000 de indivíduos, os Bantos possuem outras características culturais semelhantes além do parentesco lingüístico. Segundo Nei Lopes, "(...) parece que em todas as religiões bantas os espíritos dos ancestrais são os intermediários entre a divindade suprema e o homem. Assim, são eles que levam as oferendas dos fiéis e intercedem em seu favor junto a Nzambi(...)".3 Essa importância do espírito dos ancestrais na religiosidade Banto é o segundo fator que evidencia o caráter religioso inicial do Zambiapunga.
Primeiro, a data tradicional do Zambiapunga ir às ruas em Nilo Peçanha é a madrugada de 1o de novembro, dia de Todos-os-Santos e véspera do dia de Finados. Nestes dois dias a população local volta sua atenção para a lembrança de seus mortos que são homenageados com flores, velas e missas. Não existia momento mais propício do calendário católico para um cortejo que refletia uma religiosidade baseada na ancestralidade ir às ruas. Outra evidência do caráter religioso inicial do grupo é o significado do termo "Mpungu" de Nzambi-a-Mpungu. Segundo vocabulário construído por Aires Machado Filho e reproduzido por Nei Lopes4 , a palavra "Mpungu" é provavelmente sinônima de "defunto". Yeda Pessoa traduz, por sua vez, "nzambi ampungu" como o grande espírito e "saami ampunga" como os grandes ancestrais. "Mpungu", "ampungu" ou "ampunga" são palavras bantos que se referem aos mortos, aos antepassados, o que evidencia a relação da origem do ZambiAPUNGA atual com a religiosidade Banto. Com o tempo o caráter religioso se perdeu e permaneceu uma bela manifestação da cultura popular. O Zambiapunga ficou inativo em Nilo Peçanha cerca de 20 anos ( entre as décadas de 1960 e 1980) sendo revitalizado em 1982 pela professora Lili Camardelli e seus alunos do Ginásio de 1o Grau Adelaide Souza. Após essa revitalização o Zambiapunga nilopeçanhense tornou-se uma das maiores manifestações folclóricas do Estado da Bahia. Sua importância é refletida na participação do grupo em eventos internacionais de peso ( como ECO 92 e PERCPAN); por ter sido capa de periódicos internacionais ( The New York Times) e por ter sido tema de diversos documentários e programas de TV ( "Brasil Legal", produzido pela Rede Globo e exibido em 01/07/1997; "Caretas e Zambiapunga", produzido pelo IRDEB; "Nilo Peçanha e o Zambiapunga", produzido pela TV Salvador e exibido em 05/2001; "Na Carona", produzido pela Rede Bahia e exibido em 2001, entre outros.). | ||
Onde assistir: Valença, Nilo Peçanha e Cairú fonte: http://www.visiteabahia.com.br/visite/atracoes/folclore/zambiapunga.php Leia mais em: http://www.mda.gov.br/feirars/paginas/Zambiapunga Crédito das fotos: foto 1: http://www.visiteabahia.com.br/visite/atracoes/folclore/zambiapunga.php foto 2 e 3: http://www.colegiomiro.com.br/gincana/zambiapunga/ foto 4: http://tangolomango2008.wordpress.com/2008/10/05/uma-voltinha-por-salvador/ |
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Figureiras do Vale do Paraíba(Taubaté/SP)
A cidade de Taubaté-SP fica no Vale
do Paraíba, distante 134 km de São Paulo capital, situando-se na margem da Rodovia Presidente
Dutra-estrada que liga o
Rio ao estado de
São Paulo-SP.
As Figureiras de Taubaté são assim denominadas por serem mulheres, a maior parte dos artesãos.
No entanto, atualmente, há homens exercendo o ofício. Estas mulheres são exímias na arte de esculpir em barro cru obras que espelham o cotidiano da vida do interior com seus usos, tipos,costumes e temas religiosos. |
Os trabalhos de
modelar pequenas figuras iniciaram-se através dos frades franciscanos do Convento de Santa
Clara, no século XVII, que encomendavam às mulheres, por ocasião das festas
natalinas, a confecção de presépios com cenas relativas ao nascimento de Jesus: o
Estábulo de Belém, a Manjedoura, São José, Nossa Senhora, os Reis Magos, a
Estrela e os animais-burrico, boi, vaca, carneiro etc.
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Com o tempo, com muita
criatividade, sensibilidade e humor, as figureiras passaram a espelhar em seus
trabalhos outros temas.
Novos personagens surgiram representados por pequenas figuras sempre bem coloridas, com dimensões entre 3 e 25 cm,
retratando o cotidiano, as profissões, as festas religiosas, os animais e o imaginário popular.
Novos personagens surgiram representados por pequenas figuras sempre bem coloridas, com dimensões entre 3 e 25 cm,
retratando o cotidiano, as profissões, as festas religiosas, os animais e o imaginário popular.
Assim surgiram o Pavão (também
chamado de Galinho do céu), a Chuva de Pavões, o São Francisco com os pássaros,
Nossa Senhora das Flores, Nossa Senhora de Aparecida, e muitas outras figuras.
Nossa Senhora das Flores, Nossa Senhora de Aparecida, e muitas outras figuras.
As
figureiras modelam suas obras usando barro que é amassado delicadamente com os
dedos. Usam para dar acabamento ferramentas improvisadas do tipo: estiletes,
facas, palitos, hastes de bambu etc. Em algumas figuras são aplicados
componentes, como arame e outros materiais.
superior a 500° C.
As peças são secas ao tempo,
por cerca de 24 horas. Em seguida, inicia-se a decoração, quando são pintadas,
nos mínimos detalhes, com tintas comerciais do tipo, acrilex, suvinil, pó
xadrez e similares.
Uma das características do trabalho de todas as figureiras são as cores vibrantes das peças. Aplicam muito um azul de tom forte, amarelo, verde, branco, preto, vermelho, prateado, dourado, etc.
Os principais tipos e cenas
abordados pelas figureiras são: O Pavão, também chamado Galinho do Céu, sob
várias formas e sua Chuva. A Galinha d'Angola sozinha e na forma de chuva, Arca
de Noé, os tipos regionais-lavadeiras, passadeiras, jardineiros, lenhadores,
vendedores de galinha, mulher alimentando as galinhas com milho, mulher socando
o pilão, preta velha, pescador, violeiro, pedreiro, sanfoneiros, palhaço, carro
de boi; os animais- bois, carneiros, raposas, beija-flores, burrinho, galo,
galinha, pavão, onça, joaninha e muitos outros; as danças típicas-quadrilha,
bumba meu boi, da fita, grupos de Moçambique, roda de jongo, congadas, a folia
do divino e dos reis;os Santos-Nossa Senhora das Flores, Nossa Senhora da
Aparecida, São Francisco com os pássaros, Sagrada Família e presépios
apresentados com variados componentes e formas.
São modelados também os personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo, de autoria do escritor Monteiro Lobato, que era taubateano - Emília, Narizinho, Pedrinho, Dona Benta, Visconde de Sabugosa, Tia Anastácia e o Jeca-Tatu. |
Inicialmente,
eram feitas somente Chuvas de Pássaros com pavõezinhos, mas,
atualmente, há outras Chuvas , de Galinha d'angola, de Bois, de Bumba, de Pato, de Carneiro etc. |
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Muitas das figuras, como o Pavão, a Galinha d'angola,
as Chuvas, os Presépios e outras, são temas comuns modelados por muitos dos
artistas. Cada obra, no entanto, tem características próprias de criação com
sutis diferenças entre umas e outras. Não há entre os artesãos nenhuma
restrição, pois ninguém se julga dono,
com exclusividade, de nenhuma imagem.
Em Taubaté os trabalhos das figureiras são encontrados,
basicamente, em dois lugares: na Casa do Figureiro e nas proximidades, na rua Imaculada
Conceição, no Alto de S
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A Casa do
Figureiro, uma espécie de cooperativa, está situada na rua dos Girassóis
60-Campos Elíseos-Tel (12) 3625-5154, CEP 12090-290.
Leva o nome de Maria da Conceição Frutuoso Barbosa, falecida em 1950, em homenagem à religiosa que liderou a construção da primitiva Capela da Imaculada Conceição. http://www.casadofigureiro.com.br |
Lá estão reunidos dezenas de artesãos. Em out/01 eram
aproximadamente 42: Alice, Arlete, Benê, Décio, Dri, Ismênia, Jana, Jorginho,
Josi, Mara, Nelson,Teça, e muitas outras e outros.
No
local há um grande salão onde são expostas e comercializadas as peças dos
artistas. Existe uma oficina que é também aproveitada para a realização de
cursos dirigidos para a comunidade, ministrados pelo SEBRAE, pela
UNITAU-Universidade de Taubaté, que ensina inglês para que as figureiras possam
melhor atender aos visitantes estrangeiros,
e pela SUTACO-Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades,
órgão do governo estadual que promove e incentiva o artesanato paulistano.
Recentemente, juntou-se, ao grupo familiar, outro irmão. Trata-se de José
Domingos que esculpi, principalmente, figuras representativas do cotidiano rural - lenhadores, carro de
boi, onça, jeca tatu e outros tipos regionais.
É de
autoria de Cândida, a famosa figura do Pavão, que é apresentada sob várias
formas:com a cauda levantada, com a cauda caída (pavoa), de relevo, com penas
arrepiadas, e pavão recoberto, com penas de galinha, bem como a Chuva de Pássaros. A figura do Pavão foi
inspirada nos pavões que existiam numa praça da cidade e a chuva ao observar
árvores com muitos pássaros em seus galhos.
O site oficial das Figureiras de Taubaté é http://www.figureirasdetaubate.com.br/ . |
FO NTE:
http://www.ceramicanorio.com/artepopular/figureirastaubate/figureirastaubate.htm
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Reside, também na rua Imaculada n° 298, a mais antiga
figureira Dona Idalina da Costa Santos, nascida em 1914, mãe de Ismênia
Aparecida dos Santos, atual
presidente da Casa do Figureiro
(out/01) e de Maria Alice Santos de Oliveira,
outra filha também artista. |
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Não podem
deixar de ser citadas, outras famosas
figureiras, como Virginia
Nogueira, conhecida como Edwiges, já falecida, que foi uma das primeiras
artistas a alcançar fama nacional.
Outros nomes importantes são os de Maria Eugênia Marcondes, Anita da Silva
Sampaio, Benedito Gomes da Silva, Maria da Silva, Anastácia Costa dos Santos, Anastácia de
Oliveira, Sebastião Oliveira conhecido como Padeiro Oliveira, Bartholomeu
Nogueira (filho de Edwiges) e sua mulher Maria Benedita Nogueira.
O barro usado na confecção das
peças é obtido lá pelos lados do Rio
Itaim, que corre próximo à cidade. Este mesmo procedimento era adotado pela
Fábrica de Louça Santa Cruz, durante muitos anos uma das maiores indústrias da
cidade de Taubaté, que chegou a ter 2200
empregados, cujas atividades foram encerradas em 1964.
O maior incentivador da arte
das Figureiras de Taubaté foi o Professor Rossini Tavares de Lima, falecido em 1987, que
dentre outras medidas de incentivo e reconhecimento, coordenou em 1964, no Parque Água Branca em São
Paulo-SP, a primeira exposição das Figureiras. Como singela homenagem, as irmãs
Cândida e Luiza mantêm, na parede da oficina, sua foto emoldurada.
Anualmente, no dia 19 de agosto, acontece na cidade de Taubaté a Festa do Folclore do Bairro da Imaculada, tradição desse povo alegre, que remonta há mais de 150 anos . Na ocasião, apresentam-se grupos folclóricos, duplas sertanejas, quadrilhas, espetáculos musicais e outras manifestações regionais, festivas e culturais. |
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Muitas vezes, surgem encomendas especiais, feitas
por colecionadores do Brasil e do exterior. Certa ocasião,
pediram para as três irmãs uma Chuva d'Angola de maior tamanho. Foi confeccionada uma, com 121 galinhas, medindo cerca de 1 metro de altura, dimensão bem superior às que normalmente são feitas -25 cm de altura - com cerca de 20 galinhas. |
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Esta atividade artística, existente desde o
século XIX, tem sido transmitida de pais para filhos, através das gerações,
permitindo que haja uma efetiva
preservação desta original
tradição cultural, com raízes bem
brasileiras.
Referências
Bibliograficas:Revista
Palavra.
Nº 14, junho 2000.
Casa Claudia-Artesãos do Brasil. Ano 24 nº 464, 2000 Pavilhão da Criatividade: Memorial da América Latina:Brasil/Maureen Bisilliat,1999
disponível em:
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